"Zumbi, comandante guerreiro/ Ogum-iê, ferreiro mor, capitão/ Da capitania da minha cabeça/ Mandai alforria pro meu coração". A história daquele que seria o Zumbi começa quando um grupo de expedicionários liderados por um comandante chamado Brás da Rocha ataca Palmares, no ano de 1655, levando um recém nascido, entre os adultos capturados.
A criança foi entregue ao chefe da coluna atacante, que por sua vez resolveu fazer um presente ao padre Antonio Melo, cura de Porto Calvo. Padre Antônio batizou a criança como Francisco. Francisco era pequeno e franzino. Aprendeu a rezar e foi coroinha. Aprendeu português, latim e religião.
Numa noite de 1670, aos 15 anos, Francisco fugiu para o quilombo onde nasceu, mudando seu nome para Zumbi que no dialeto banto quer dizer "Senhor da Guerra" e em outros lugares zumbi são mortos-vivos, criaturas que mesmo no além jamais descansam. Não demorou muito e foi eleito chefe de uma aldeia (mocambo) e, com muita raça e pulso firme, rapidamente se tornou comandante geral do exército de Palmares.
Zumbi começou a ser idolatrado quando, ao contrário de Ganga-Zumba, não aceitou o falso tratado de paz proposto pelo governo em que se prometia liberdade apenas aos nascidos no quilombo. E após uma operação juntamente com os outros quilombolas depôs Ganga-Zumba e assumiu o poder no Quilombo de Palmares.
Zumbi assumiu o posto de chefe maior e reorganizou toda Palmares. Ordenou que fossem degolados os seguidores de Ganga-Zumba, mandou matar seus rivais internos, preparou seus homens para os combates que estariam por vir, transformou Macaco, sede de Palmares, numa gigantesca fortaleza. Por dezesseis anos venceu os ataques à sua terra. Durante este período o governador de Pernambuco e a própria Coroa procuraram negociar, garantindo a vida ao líder e a seus familiares, caso aceitasse a rendição.
Zumbi preferiu lutar a entregar seu povo: sua dignidade não tinha preço. "Minha espada espalha o sol da guerra/ Rompe mato, varre céus e terra/ A felicidade do negro é uma felicidade guerreira/ Do maracatu, do maculelê e do moleque bamba/ Minha espada espalha o sol da guerra/ Meu quilombo incandescente a serra/ Taliqual o leque, o sapateado do mestre-escola de samba/ Tombo da ladeira, rabo de arraia, fogo de liamba...". Símbolo de resistência e dominação, Zumbi dos Palmares é referência legada tanto às gerações africanas trazidas ao Brasil quanto aos seus descendentes afro-brasileiros. Nas senzalas, acreditava-se que Zumbi era imortal.
Porém a batalha final estava próxima e em 20 de novembro de 1695, um ano depois da derrota de Palmares, o Senhor da Guerra morreu numa emboscada, traído por um amigo. Seu corpo foi reconhecido pelo padre Antonio Melo. Mas nada foi suficiente para impedir que renascesse um mito em cuja coragem e força se tornaram eternas para os que continuaram resistindo contra a escravidão.
No dia da morte de Zumbi, 20 de novembro é comemorado o dia da consciência negra. Zumbi permanecerá vivo na lição de resistência, permanecerá como símbolo das atrocidades infindáveis do poder ilimitado, arbitrário, prepotente. Ficará acima de tudo, como exemplo a todos que resistem à opressão e lutam por liberdade e justiça.
"Em cada estalo, em todo estopim, no pó do motim/ Em cada intervalo de guerra sem fim/ Eu canto, eu canto, eu canto assim/ A felicidade do negro é uma felicidade guerreira...".
Gilberto Gil & Walid Salomão
Viva Zumbi!!!
Viva Palmares!!! |